Foto: Dênio Garci/Unifor
As aves passam por uma quarentena, que inclui triagem, ressocialização e readaptação, antes de serem devolvidas ao campo
Ação de fiscalização realizada com o apoio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) apreendeu, em uma residência particular do município de Guanhães, 32 galos da raça Mura, que participavam de rinhas (espécies de torneios clandestinos com prática de maus-tratos contra os animais). Na ocasião também foram apreendidas armas, diversas gaiolas, além de biqueiras e esporas de fibra, que são materiais usados para potencializar a luta entre as aves.
A operação, denominada “Raposa no Galinheiro, foi realizada pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Minas Gerais, parceira da Semad nas ações de fiscalização, com apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) – por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna (Cedef) e da 4ª Promotoria de Justiça de Formiga –, do Centro Universitário de Formiga (Unifor) e da Associação Regional de Proteção Ambiental (Arpa II) de Divinópolis.
Durante a ação, motivada por denúncia, os fiscais encontraram os animais em condições inadequadas de higiene, sem alimentação e água. Alguns deles apresentavam ferimentos pelo corpo e penas arrancadas, entre eles, dois galos perderam totalmente a visão e um deles teve perda parcial da visão.
Nessa terça-feira (6/4), os animais foram transportados por profissionais da Semad para o Centro Universitário de Formiga (Unifor), no Centro oeste de Minas, onde passarão por processo de ressocialização.
De acordo com o parecer técnico da Central de Apoio Técnico do MPMG os animais que participam dessas rinhas são submetidos a inúmeros abusos e maus-tratos para que se tornem violentos e aptos a participarem de lutas. Na maioria dos casos, eles são mantidos em gaiolas pequenas e individuais, sem alimento e água e em más condições de conforto, de forma a aumentar o estresse e deixá-los mais violentos. O parecer complementa, ainda, que os animais são frequentemente encontrados mutilados, com diversos ferimentos e com áreas sem penas, provenientes dos combates.
Segundo a coordenadora do Núcleo de Fauna e Pesca da Semad, Samylla Mol, o art. 25 da Lei 9.605/98, que trata de atividades lesivas ao meio ambiente, determina que o proprietário perca a posse dos animais logo que comprovado os maus tratos. “Os 32 galos apreendidos estão em processo judicial e passarão por quarentena com triagem e, no mínimo, 90 dias de ressocialização e readaptação, onde ocorrerá a replumagem e outras melhorias físicas e comportamentais”, explicou.
RESSOCIALIZAÇÃO E REINTRODUÇÃO
Em projeto desenvolvido e testado em centenas de aves pelo professor coordenador da Fazenda Laboratório do Unifor, Dênio Garcia, as aves passam por uma quarentena, que inclui triagem, ressocialização e readaptação, antes de serem devolvidas ao campo.
Na sequência, as aves chipadas e anilhadas são doadas a proprietários rurais que tenham interesse em melhorar seu plantel. Os proprietários são selecionados por meio de programas de agricultura familiar cadastrados na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) ou entre aqueles que tenham interesse e assinem um termo de adoção contendo todos os dados de identificação da ave e do adotante, bem como suas obrigações.
Segundo o professor, o trabalho de levar o animal de volta ao seu hábitat natural consiste na ressocialização e reintrodução, que por sua necessária complexidade técnica e científica, deve ser feito por especialistas e passar a ser um instrumento de conservação. “No Brasil, a experiência com ressocialização e reintrodução ainda conta com muito preconceito, muitas vezes por falta de conhecimento ou confusão com técnicas de introdução, que envolvem espécies consideradas agressivas”, explicou Dênio.
Durante um ano, as aves serão monitoradas para medição da eficiência da técnica adotada e subsídio ao aprimoramento das técnicas em futuros experimentos. O programa inclui, ainda, a educação ambiental, com a inclusão das comunidades sobre a importância dos trabalhos de ressocialização, reintrodução e reabilitação.
Entre os resultados esperados com os estudos estão a adaptação de pelo menos 50% da população submetida aos experimentos; a análise da eficiência reprodutiva das espécies submetidas aos experimentos; o incentivo à importância da criação consciente de galos combatentes; a obtenção de tecnologia com os resultados positivos alcançados, no intuito de aplicar essa tecnologia; criação e confecção de uma cartilha com informações de criação responsável de galos combatentes; conscientização da comunidade, através da educação ambiental, de sua importância na preservação da espécie, garantindo assim um patrimônio genético importante para a sobrevivência da própria espécie no futuro.
Wilma Gomes
Ascom/Sisema